É impossível ajudar todas as pessoas que precisam. E, muitas vezes, para ajudar uns é preciso deixar outros de fora (porque os campos de refugiados não são infinitos, nem o dinheiro nem a comida disponível). São escolhas difíceis que muitas vezes têm de ser feitas pelas pessoas que trabalham nessas zonas. Não os invejo. Nem um pouco. Escolher entre quem vive e quem morre é um fardo demasiado pesado para qualquer simples mortal ter de carregar. O que este homem fez não tem nada a ver com isso. Podemos discutir o famosa dilema moral que recai sobre os fotógrafos – ajudar VS fotografar – mas nem é preciso ir por ai. Neste caso, ele podia ter feito ambos. Tirar uma fotografia para mostrar o que se estava a passar no Sudão (e que continua a acontecer... mas há mais gente preocupada em perder tempo a criticar Bush e os EUA que a falar destas coisas... e como o Sudão há uma lista demasiado extensa... mas isso são contos de outro vigário) e podia ter ajudado. Era aquela a única criança que precisava de ajuda? Não. Mas ele podia ter feito a diferença. Uma a mais ou uma a menos pode parecer igual mas não é. Podia a ter ajudado a chegar ao campo de refugiados mais próximo. Podia ter-lhe dado de comer (umas luvas e uma mascara daquelas que tapa o nariz protegiam-no das doenças). Ou, com um punhado de dólares, podia ter trazido a criança para os EUA e dar-lhe uma vida melhor. Ou podia ter ajudado a família dela (se é que ainda existia). Existem milhares de cenários possíveis mas não quero perder tempo com isso. Qualquer coisa era melhor do que ele fez. Não digo que seja fácil, nem que, se estivesse lá, tivesse feito the right thing (whatever that means). Mas o que ele fez é simplesmente de uma exploração atroz, desumana, e acho que não devia haver muita dúvida quanto a isso. Ele é, na minha opinião, pior que o abutre. Porque, para o abutre, a desgraça da criança significa a sua própria sobrevivência. E entre a sobrevivência de um ou do outro, venha o diabo e escolha. Quem somos nós para criticar alguém que quer apenas viver? O que o fotografo (ia chamá-lo de filho da puta mas escusamos de ser agressivos) fez foi tão só tirar umas quantas fotografias e bazar, deixando a criança a morrer, e à conta disso ganhou fama, dinheiro e prémios. Fico feliz que se tenha suicidado e espero que arda no inferno para sempre. Mas isso sou eu, que hoje não acordei lá muito bem disposto e odeio gente sem escrúpulos. Posso ser um cretino, que nunca salvou ninguém, nem fez nada por um mundo melhor, mas pelo menos nunca beneficiei da desgraça alheia. E isso pode não me dar o Céu, mas também não me dá o inferno. O maravilhoso mundo do limbo... Chega de feedback?