Na última 5ª feira, a polícia dinamarquesa decidiu desalojar mais uma casa ocupada. A casa em questão fora ocupada em 1982 e, durante 20 anos, foi usada como Centro de Juventude (Ungdomshuset) por activistas de esquerda (Ehehehehehehe), vulgarmente conhecidos por ocupas. É claro que o pessoal decidiu manifestar o seu descontentamento. A polícia estava à espera de confrontos mas nunca conseguem prever a sua intensidade e normalmente são apanhados desprevenidos. Pois... foi isso que aconteceu. Os confrontos ainda duram e sabe-se lá como e quando vão terminar. Estou com eles em espírito (apetecia-me dar um saltinho a Copenhaga mas neste momento não o posso fazer)e espero bem que continuem a manifestar-se.
Agora é tempo de explicações: em 2001, um grupo cristão (claro que a religião tinha que estar metida ao barulho), comprou o Ungdomshuset à câmara municipal. Este grupo cristão arranjou então uma ordem de despejo para afastar os inquilinos indesejados mas estes recusaram-se sair até ontem, o dia em que foram desalojados à força pela polícia dinamarquesa. Pelo que se ouviu nas notícias, a polícia recorreu mesmo a um helicóptero para entrar na casa, através do telhado! E, se não se pode ocupar uma casa, ocupam-se as ruas! Os confrontos chegaram mesmo a Christiania, a mítica comunidade hippie situada no coração de Copenhaga.
Desde que andava na escola, que conheço o meio ocupa (não, nunca ocupei nada) e já frequentei algumas casas ocupadas (squats) espalhadas pela Europa. Não percebo porque é que as pessoas levantam tantos problemas com os ocupas. Deve ser por serem diferentes, por não respeitarem todas as normas sociais. Ah!!! Que parvoíce, as casas ocupadas são antros de droga e de pessoal problemático, que não quer trabalhar nem pagar rendas...são uns malandros!! E também cheiram mal...
As pessoas antes de falarem, deviam informar-se melhor. Não é que não haja problemas nestes “Centros” mas as pessoas não se juntam ali só para consumirem drogas e parasitarem. Em certas casas, tal como a que existia na Praça de Espanha, em Lisboa, faziam-se workshops de tudo e mais alguma coisa, havia concertos, jantaradas, bar, exposições, etc. Também havia problemas, quando recebiam umas visitas “carecas” (quando os skinheads desciam à cidade) ou ciganos...Mas esses problemas eram resolvidos à boa velha maneira: à batatada!
As casas ocupadas podem ser usadas das mais variadas maneiras, aproveitadas para ajudar pessoas ou encaminhar pessoas que precisam de ajuda. Em Amsterdão existem quarteirões ocupados por famílias inteiras! E em Barcelona, Praga, Paris, Berlim, Londres, entre outras, as casas ocupadas são o pão nosso de cada dia.
Se as casas estão livres, porque não ocupá-las? Bem, se calhar é melhor deixá-las a apodrecer vazias....E as ratazanas precisam dum poiso...
Ocupa e Resiste!!!!!!
Assumo, portanto, que sejas contra a propriedade privada... Toda ou só aquela que tu achas que não está a ser utilizada?
Se for só a que não está a ser utilizada, isso quer dizer que, quando fores de férias, eu me posso mudar para tua casa... eu e todos os meus amigos que não tem casa em Bruxelas, e olha que não são poucos... E estou a assumir que seja de borla! Afinal, ninguém a estava a utilizar! Espero, igualmente, que não te importes que dê umas quantas festas?
Sim, porque eu também adorava poder dar "jantaradas" lá em casa todos os dias... mas não posso... porque o que me sobra depois de pagar a renda não é muito... Que estúpido que eu sou... pagar renda! Tanta casa desocupada… que parvoíce… malandros dos senhorios e dos proprietários…
Já agora, aproveito a minha estadia por tua casa e ajudo-te a veres-te livre de toda a tralha que tens por lá, a maioria que não usas, como roupa e livros e cds e dvds...
E só mais uma questão: quem decide se a utilização que damos às nossas coisas é a certa? O comité central? Porque da mesma forma que tu achas que a melhor solução para as casas desabitadas (que foram pagas) é ocupa-las, eu também posso achar que a utilização que tu dás… ao teu computador, por exemplo, não é errada. Esse computador podia estar a ser utilizado para conceder micro-créditos (que fazem muito para reduzir a pobreza por esse mundo fora)… ao invés serve para ouvir música e ver uns quantos filmes… E também posso achar que a utilidade que dás ao teu dinheiro não é a melhor, ou não? O que nós, sociedade ocidental que tanto criticas mas da qual fazes parte, gastamos em drogas, álcool, roupa, música, concertos, comida… dava para alimentar centenas de famílias em África… Portanto, até que ponto te compete a ti julgar os outros, as acções dos outros, a forma como eles utilizam o que compraram?
Pergunto: estás disposta a dar o exemplo?